sexta-feira, 15 de abril de 2016

Crítica de Lígia Souza Oliveira sobre Limbo


O câncer como matéria de linguagem
 Limbo, dramaturgia e direção de Alexandre França agora assinado pelo Coletivo de Heterônimos, é um passeio pela linguagem. Dois atores elaboram a narrativa múltipla a partir da existência de um ou de vários Guilhermes. O espetáculo vai se construindo com suposições na cabeça do espectador. Nada é exato, tudo é metáfora e criação.


As palavras transitam pela cena de modo a não construir apenas um sentido único. Não se trata da retirada de um significado da narrativa. A proposição de Alexandre França é, através das palavras, atravessar o espectador sem oferecer apenas uma linguagem substituta para a cotidiana. Limbo apresenta, sem pretensões, várias narrativas heterogêneas, sem hierarquia das palavras ou das narrativas. 

Há a criação de diversos olhares a partir da ideia de um câncer. O sofrimento, a retirada da vida, a eminência da morte, a metáfora do câncer a se espalhar sem direção por um corpo (humano ou político). Os atores, neste sentido, investigam a sonoridade das palavras de Limbo e compactuam na intenção criadora, inventiva do texto. 

O espectador acompanha as suposições das vozes ali colocadas e leva consigo uma visão múltipla sobre questões tão humanas: a morte, a vida, o sofrimento, a piedade... O câncer de Guilherme, esse personagem sem rosto, também é uma metáfora do nosso momento histórico. Pra onde esse câncer cresce? De onde ele surge? O que há depois dele? O que fazer com este câncer? Caminhamos sobre suposições ao som, distraído, de Guilherme Arantes.

A dramaturga Lígia Souza Oliveira é mestre em dramaturgia pela UFPR e doutoranda pela USP com tese sobre o dramaturgo francês Vàlere Novarina. 

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