sábado, 10 de novembro de 2018
Coletivo de Heterônimos participa de ciclo de leituras dramáticas do Festival Yesu Luso do Sesc São Paulo
Neste mês de novembro, o Coletivo de Heterônimos estará participando do ciclo de leituras do Festival Yesu Luso promovido pelo Sesc São Paulo. Confira a programação no site https://www.sescsp.org.br/programacao/172729_YESU+LUSO#/content=programacao
A última estação, de Elmano Sancho, dia 08 às 18 hs no Sesc Santo Amaro
Com Alexandre França, Amanda Mantovani, Bruno Ribeiro e Martina Gallarza
Nesta mundo louco, nesta noite brilhante, de Sílvia Gomez, dia 13, às 18hs, no Sesc Vila Mariana
Com Martina Gallarza, Catharina Negraes, Bruno Ribeiro e Alexandre França
(Des)mascarado, de Vênancio Calisto, dia 14, às 18hs, no Sesc Vila Mariana
Com Bruno Ribeiro e Martina Gallarza
Sim ou não, de Valódia Monteiro, dia 16, às 20hs, no Sesc Santo Amaro
Com Bruno Ribeiro e Martina Gallarza
domingo, 26 de março de 2017
Critica de Diego Fortes (prêmio Shell 2017 de melhor autor) sobre o espetáculo Limbo
Inaugurando o Coletivo de Heterônimos, França apresenta uma dramaturgia que utiliza a linguagem como a fumaça de um cigarro. Uma bola branca e disforme que passeia livremente, faz um balé dentro do pulmão canceroso de Guilherme. Este nome, aqui, é uma das múltiplas identidades que esse som de três sílabas assume. Inclui até o "rei" Guilherme Arantes - presença gloriosa na sonoplastia.
As obsessões do texto (com câncer, com a glória mórbida da doença e o nome Guilherme) possuem, ao mesmo tempo, um caráter cruel, cômico e filosófico. É importante destacar que a habilidade de trânsito entre a situação dramática e o poético se dá sem esforço - coisa de quem já joga bola há um tempinho...
Bruno Ribeiro e Amanda Mantovani (atores-samurais-de-Kurosawa) empregam suas impressionantes ressonâncias e movimentação precisa pelo cenário branco. Em nenhum momento, escorregam em escolhas fáceis, mas criam tensão e humor em um texto provocador.
Um sólido começo de trabalhos para o grupo.
Diego Fortes é diretor e dramaturgo da Armadilha Cia de Teatro. Realizou, entre outras montagens, Café Andaluz e Os Leões, ambas de sua autoria. E O Grande Sucesso, prêmio Shell 2017 de melhor autor.
quinta-feira, 9 de março de 2017
A arquitetura da coincidência - algumas chaves de entendimento da peça LIMBO
por Alexandre França
É
preciso ter em mente, ao assistir a um espetáculo como Limbo, que a questão do conflito
e do desenvolvimento da trama encontra-se, não superada, mas em
outro espaço. Talvez suplantada, no terreno movediço das coincidências. Limbo
não é uma obra que dará ao público um fio condutor, um desenvolvimento – trata-se,
antes, de tecer com fios de materiais diversos um objeto tridimensional: fios
de nylon, fios de algodão, fios sanguíneos, fios de palavras, fios de significantes
próprios, fios invisíveis, fios de fumaça – tecer, enfim, a trajetória de um nome, e não de uma
pessoa (ou de personagens dentro de uma história). Pois acreditamos, justamente,
que o conteúdo de um indivíduo é, antes de ser linguagem, um amontoado
químico/biológico não identificado a locomover pedaços de linguagem em função
de seu existir silencioso. Não se trata também de problematizar
de maneira temática um ponto, aprofundando seu desenvolvimento rítmico em série
de cenas fragmentadas e coladas umas nas outras (com o intuito,
por exemplo, de gerar uma crítica lateral acerca do objeto em relação a
sociedade). Isso, claro, também pode ser captado na fruição da peça (a espetacularização de uma doença como o câncer, por exemplo). Mas não é o
principal aqui. Trata-se,
mais do que tudo, de se aproximar de UM real; os últimos segundos de um
indivíduo. E do que isso pode provocar em nossa recepção. Em nossa visão de
mundo.
Neste
sentido, Limbo coloca no limite a relação causal entre pares. Como se a coincidência
fosse a verdadeira força motriz a movimentar os tentáculos frasais evocados
pelos atores. E, no fundo, essa é de fato a gasolina de que se vale a
anti-dramaturgia de Limbo – a coincidência. Coincidência de nomes, lugares,
celebridades, doenças, acontecimentos de todas as ordens. O que carrega um nome
vazio de fundamento? O que um nome, suspenso de sua origem, pode carregar, para
além de uma estruturação histórica?
São
duas as camadas expostas para o público: a de um nome, “Guilherme”, e a do câncer,
uma doença considerada grave e dificilmente reversível. A partir daí as duas
camadas se abraçam, mostrando esses acontecimentos evanescentes, que não
sabemos mesmo possuir legitimidade, ou sustentação no solo do verossímil. O que
cabe na camada do nome Guilherme? Um garoto apertando a campainha dos
apartamentos? Um garoto que poderia ser o próprio homem que fala na sua
infância? Um colega de trabalho? O colega de trabalho da mãe deste homem? O
cantor Guilherme Arantes? E em relação ao câncer? Em qual figura incide? Veja,
leitor: isso não é embromação. A
cabeça deste anônimo em seu leito de morte é uma fábrica de montar coincidências, e sua linguagem levará no limite
do desespero a ligação entre esta fábrica e a sua expressão.
E não seria essa a sensação de quem está
prestes a perder sua própria vida? De que os acontecimentos seriam miragens,
ilusões vazias, a nos conduzir ironicamente a um labirinto sem fundo? De que,
ao mesmo tempo, estes acontecimentos-miragens seriam reais, forças intuitivas a
nos colocar novos significados acerca do já vivido, do já presenciado? Este é o
território de Limbo – uma zona indiferente entre o saber e o não saber, entre o
que acontece e o que não acontece, entre o céu e o inferno. Sofremos sem saber
que estamos sofrendo. Curamos sem saber que estamos curando. Tudo isso para no
final encontrar a última porção que constatamos ser nossa: o silêncio provocado
pela nossa morte – acontecimento do qual não tomaremos conhecimento.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
NOVA TEMPORADA DE LIMBO EM SP! MARÇO DE 2017!
Os últimos segundos de vida de um sujeito podem conter um tempo imensurável. Pois a memória, neste lugar, perde seu encadeamento natural. No espetáculo LIMBO, estes últimos segundos tornam-se 45 minutos. E um nome, Guilherme, passa agora a representar a multidão de anônimos que insistem em percorrer os sinais vitais de um homem com câncer terminal.
LIMBO – Reestreia dia 6 de março, segunda-feira,
às 21 horas, no Club Noir. Texto e direção
– Alexandre França. Elenco
– Amanda Mantovani e
Bruno Ribeiro. Iluminação –
Alexandre França e Erica Mitiko. Cenário e figurino – Hélio Moreira Filho. Desenho
de som – L.P. Daniel. Produção
– Coletivo de Heterônimo. Duração – 45
minutos. Recomendado para maiores de 16 anos. Ingressos – R$ 20,00 e R$
10,00 (meia-entrada). Temporada –
Até 4 de abril, segundas e terças-feiras às 21 horas.
CLUB NOIR – Rua Augusta, 331 –
Consolação. Telefone – 2309-7271. Capacidade – 50
lugares.
sexta-feira, 22 de julho de 2016
LIMBO E O ANONIMATO EM SÃO PAULO
Por Alexandre Gil França
Passados três anos da primeira versão de LIMBO, posso afirmar que nunca, em toda a minha trajetória como dramaturgo, uma doença pôde ganhar contornos tão densos e, simultaneamente, tão distantes do que eu imaginava ser a face do incurável, aqui representada pela fatalidade do câncer terminal. As palavras em LIMBO, sem falsa modéstia, choram sem querer. A doença, portanto, pulsa no centro da linguagem empregada nas engrenagens dramatúrgicas. Ela faz coro com o que escondemos. Com o que evitamos. Esta impressão de densidade emergiu definitivamente no trabalho com o elenco, talvez por ter ficado claro para todos do Coletivo de Heterônimos que LIMBO, na verdade, trata, não do que não podemos curar, mas do que não podemos reconhecer. É por este prisma que a doença ganha sua circulação de chumbo: na falta de um corpo; em uma sombra monstruosa. Neste sentido, a peça dialoga, de maneira cínica, com o que, na época, era a minha condição anônima em São Paulo. As relações que iniciaram o processo deste espetáculo, poderíamos dizer, se deram em um completo acaso, fruto, no fundo, da minha necessidade de conexão com algo externo. O fantasma do anonimato (do homem, da doença, do mundo ao redor), esta entidade que é chamada na peça através do nome Guilherme, é nada mais do que a capacidade solitária que temos de nos conectar com o mundo, mesmo em situações limites que nos fazem duvidar do nosso poder de insistência vital – mesmo quando não resta mais ninguém para assistir ao desenho do nosso drama. Estamos sempre em relação com alguma coisa e este tipo de dinâmica, própria do ser e da sua lógica de persistência, é o que nos movimenta a compreender a singularidade dos laços, até quando não há mais perspectiva de futuro – ou quando esvaziamos toda a nossa mente de afetos. LIMBO é, portanto, um elo entre o anonimato e o próprio viver. Sua materialidade, forjada por durante quase um ano em ensaios, pra dizer, no mínimo, árduos, empreendidos com sagacidade por Bruno Ribeiro e Amanda Mantovani, é a prova de que a singularidade das relações sempre nos surpreende e sempre se afirma frente a pessoalidade dos corpos. LIMBO é uma louvação ao humano, não em sua monótona liturgia do Eu, mas em seu desprendimento absoluto em direção ao mundo. O cenário de Hélio Moreira Filho talvez seja o que melhor representa o sistema afetivo desta peça – um grande, absoluto e cego nada branco que insiste em contaminar a rota das narrativas pessoais, transformando-as em corpos plásticos e múltiplos. Mesmo enclausurados, as duas figuras de LIMBO se movimentam livremente na linguagem – lá onde não temos a precisa dimensão do que podemos e do que não podemos fazer, onde esquecemos o rosto sem dúvidas da verdade e nos afundamos no puro acontecimento do existir.
Passados três anos da primeira versão de LIMBO, posso afirmar que nunca, em toda a minha trajetória como dramaturgo, uma doença pôde ganhar contornos tão densos e, simultaneamente, tão distantes do que eu imaginava ser a face do incurável, aqui representada pela fatalidade do câncer terminal. As palavras em LIMBO, sem falsa modéstia, choram sem querer. A doença, portanto, pulsa no centro da linguagem empregada nas engrenagens dramatúrgicas. Ela faz coro com o que escondemos. Com o que evitamos. Esta impressão de densidade emergiu definitivamente no trabalho com o elenco, talvez por ter ficado claro para todos do Coletivo de Heterônimos que LIMBO, na verdade, trata, não do que não podemos curar, mas do que não podemos reconhecer. É por este prisma que a doença ganha sua circulação de chumbo: na falta de um corpo; em uma sombra monstruosa. Neste sentido, a peça dialoga, de maneira cínica, com o que, na época, era a minha condição anônima em São Paulo. As relações que iniciaram o processo deste espetáculo, poderíamos dizer, se deram em um completo acaso, fruto, no fundo, da minha necessidade de conexão com algo externo. O fantasma do anonimato (do homem, da doença, do mundo ao redor), esta entidade que é chamada na peça através do nome Guilherme, é nada mais do que a capacidade solitária que temos de nos conectar com o mundo, mesmo em situações limites que nos fazem duvidar do nosso poder de insistência vital – mesmo quando não resta mais ninguém para assistir ao desenho do nosso drama. Estamos sempre em relação com alguma coisa e este tipo de dinâmica, própria do ser e da sua lógica de persistência, é o que nos movimenta a compreender a singularidade dos laços, até quando não há mais perspectiva de futuro – ou quando esvaziamos toda a nossa mente de afetos. LIMBO é, portanto, um elo entre o anonimato e o próprio viver. Sua materialidade, forjada por durante quase um ano em ensaios, pra dizer, no mínimo, árduos, empreendidos com sagacidade por Bruno Ribeiro e Amanda Mantovani, é a prova de que a singularidade das relações sempre nos surpreende e sempre se afirma frente a pessoalidade dos corpos. LIMBO é uma louvação ao humano, não em sua monótona liturgia do Eu, mas em seu desprendimento absoluto em direção ao mundo. O cenário de Hélio Moreira Filho talvez seja o que melhor representa o sistema afetivo desta peça – um grande, absoluto e cego nada branco que insiste em contaminar a rota das narrativas pessoais, transformando-as em corpos plásticos e múltiplos. Mesmo enclausurados, as duas figuras de LIMBO se movimentam livremente na linguagem – lá onde não temos a precisa dimensão do que podemos e do que não podemos fazer, onde esquecemos o rosto sem dúvidas da verdade e nos afundamos no puro acontecimento do existir.
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Sobre o espetáculo LIMBO - estreia amanhã (dia 24), às 21 e 30hs, no Sesc Ipiranga
Os últimos segundos de um sujeito podem conter um tempo imensurável.
Pois nesse território, próximo a um limbo, as significações se esvaem com a
proximidade da morte. O tempo perde seu encadeamento natural, englobando em sua
passagem os fragmentos de diferentes pontos da memória. Guilherme, o
significante sem rosto com o qual os atores aqui brincam de adoentar - nesta
contagem regressiva de 45 minutos - é também o anônimo fora do nosso alcance
(mas não fora do nosso mundo). Seu câncer, despossuído de graça dramática, é o percurso
para o playground de uma infância imemorial. Ali onde nós, adultos, podemos vislumbrar
a linguagem em seu estado de nudez. Onde o incurável torna-se, enfim, um
disparador para desconhecidas expressões do humano.
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