Os últimos segundos de um sujeito podem conter um tempo imensurável.
Pois nesse território, próximo a um limbo, as significações se esvaem com a
proximidade da morte. O tempo perde seu encadeamento natural, englobando em sua
passagem os fragmentos de diferentes pontos da memória. Guilherme, o
significante sem rosto com o qual os atores aqui brincam de adoentar - nesta
contagem regressiva de 45 minutos - é também o anônimo fora do nosso alcance
(mas não fora do nosso mundo). Seu câncer, despossuído de graça dramática, é o percurso
para o playground de uma infância imemorial. Ali onde nós, adultos, podemos vislumbrar
a linguagem em seu estado de nudez. Onde o incurável torna-se, enfim, um
disparador para desconhecidas expressões do humano.
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